quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sete verdadeiros presentes de Natal que os pais podem dar aos seus filhos

"A experiência de ter filhos talvez seja uma das mais ricas da humanidade. É através das crianças que perpetua-se o legado da humanidade tanto no sentido cultural como no que se refere a própria sobrevivência da espécie.

A sociedade consumista em que vivemos relaciona cada vez mais  o amor que os pais podem ter pelos seus filhos, aos bens materiais que eles proporcionam. Hoje as crianças tem interesse e seus “sonhos de consumo” estão muitas vezes relacionados a objetivos tecnológicos e que são REALMENTE caros.

Entretanto, a real felicidade de uma criança passa a anos luz dessas compras e, no final das contas, o que realmente importa para elas é ter a presença de quem elas amam: uma presença de qualidade.

Abaixo alguns exemplos de VERDADEIROS PRESENTES DE NATAL que os pais podem dar aos filhos:

1. Tempo

Um estudo publicado em childwelfare.gov descobriu que “Desde o nascimento, as crianças que têm um pai envolvido com suas vidas, são mais propensas a ser emocionalmente seguras, ser confiantes para explorar os arredores, e, à medida que crescem, têm conexões sociais melhores com seus colegas. Essas crianças também são menos propensas a ter problemas em casa, na escola ou na vizinhança.” Ter os pais envolvido é um melhor indicador social de sucesso futuro do que ter dinheiro ou status social. Isso diz o suficiente.

2. Rotina

Uma rotina estruturada, onde seja acompanhada uma seqüência organizada de atividades, em que se separa um tempo pré-determinado é de extrema importância na vida de uma criança, pois é
através dela que se cria vínculos afetivos, garante saúde e educa para a vida. Muitos relacionam rotina com mesmice, falta de opção e pasmaceira, mas no dia-a-dia com crianças, o papo é outro. É necessária, concordam vários especialistas. “É importante para o desenvolvimento emocional da criança, ela se organiza internamente”, explica a psicóloga Maria Cristina Gomes. “Sem rotina, os filhos podem se transformar numa grande encrenca”, diz o pediatra Glaucio de Abreu. “Ficam irritadiços, inconvenientes e chatos. Em geral, não dormem nem comem direito, o que pode levar a problemas e saúde, como desnutrição e obesidade”. Mais tarde, segundo o médico, essa criança não produzirá bem na escola, ou será um jovem com excesso de atividades, mais exposto ao estresse, porque não aprendeu a coordenar e administrar a vida, ou seja, toda criança adora manter uma rotina estruturada, pois representa segurança.

A rotina não deve ser vista como sendo rígida e estática. Ela deverá sim ter uma espinha dorsal, mas com mobilidade, quando necessário. 

3. Um animal de estimação

Animais de estimação podem ensinar responsabilidade e compaixão às crianças. Crianças que possuem animais são significativamente mais empáticas e pró-sociais.

Animais de estimação podem também proporcionar uma sensação de segurança e reduzir a ansiedade. Por estas razões, os animais são muitas vezes utilizados em terapias com crianças.

4. Um instrumento

Tocar um instrumento musical tem inúmeros benefícios para as crianças, que vão desde melhorar a memória e habilidades matemáticas até a criatividade, autoexpressão e alívio do estresse. Se o seu filho participar de uma banda ou orquestra isso pode melhorar suas habilidades sociais e ampliar seu grupo de amigos. Alguns músicos iniciantes até mesmo seguem carreiras musicais.

5. Memórias

Só tem memórias quem vive e compartilha momentos e, acredite em mim, essas memórias não estão relacionadas ao valor gasto na ocasião. Os momentos mais feliz lembrados por um adulto podem ser as lembranças da manhã em que o pai lhe servia o leite pela manhã, ou quando a mãe oferecia o colo após uma dificuldade.  Não se engane quanto a isso, examine suas próprias memórias e você saberá que, mesmo que um presente caro seja muito atraente, não é ele que fornecerá a verdadeira mensagem que você quer transmitir. Para uma criança, desde que esteja com os pais, dentro de 20 anos, estar em uma praça local, na casa dos avós ou em uma passeio de milhares de reais pela Disney não será tão diferente quanto pode parecer hoje.

6.Limites

Ah, como os pais sofrem para dar esse presente aos filhos (sofrem mais que os filhos). Lembrem-se que são os limites que ensinarão a seus filhos como viver, até que ponto ir para não colocar a vida em risco ou mesmo que, mesmo para o prazer, existe um ponto que deve ser respeitado antes que a pessoa se perca. Bons pais entendem que os limites serão os grandes alicerces que darão rumo na estruturação de uma personalidade saudável e em um adulto com capacidade de olhar a vida em perspectivas. Adultos maduros e que sabem ser mais tolerantes frente às adversidades da vida, certamente, aprenderam como lidar melhor com os limites.

7. Exemplos

Na função de pai ou de mãe, você sempre estará ensinando, embora não se dê conta. Ser honesto, paciente, tolerante, humilde, solidário, cuidadoso? Se você passar a sua vida olhando para além de seus próprios problemas, tenha certeza que seus filhos perceberão. Não tenha dúvidas, os filhos, na maioria das vezes, seguirão seu exemplo e esses exemplos serão o MAIOR e mais VALIOSO presente que qualquer pais ou mãe poderá dar para um filho.

E, é claro, se você puder gastar um pouco mais nesses contextos, é um mérito seu e isso dará mais conforto a todos. Só não inverta as prioridades!!!"


Por Josie Conti

Mais processos e menos pessoas nas comissões de protecção de crianças


"Nos últimos anos têm chegado à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Matosinhos “mais processos e processos mais complexos”, diz Rosinda Antunes, que preside a esta comissão há sete anos. “Temos de estar muito atentos. Estamos a receber uma sinalização praticamente todos os dias.”


A crise não explica tudo, continua Rosinda Antunes, mas os casos têm sido cada vez mais frequentes na CPCJ de Matosinhos. Também por isso, a dispensa de trabalhadores em curso noutras CPCJ “está a levantar muitos medos” nesta comissão com um dos maiores números de casos sinalizados de crianças em risco no país, e onde quatro técnicos de uma equipa permanente de oito são da Segurança Social. A dispensa de trabalhadores está a fazer-se no quadro do programa de requalificação que o Governo quer ver concluído até 18 de Dezembro.



No universo global dos 697 funcionários do Instituto da Segurança Social (ISS) abrangidos, os das comissões de protecção representam uma minoria. Serão entre 15 e 20 representantes da Segurança Social, segundo dados da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR).

Mas cada pessoa chega a ter 100 processos em mãos. “Cem processos são cem crianças em risco”, salienta a presidente da CPCJ do Barreiro, Rita Carvalho. Cem é o número de processos que estão a ser acompanhados pela sua adjunta, no cargo de secretária da comissão, que foi notificada no âmbito da requalificação e dispensada das suas funções.

No mapa das 305 comissões instaladas pelo país em 2013, os distritos de Braga, Aveiro, Setúbal e Porto estão entre os mais afectados pela requalificação dos trabalhadores da Segurança Social. No panorama nacional, em 2013, havia mais 505 membros de comissões do que no anterior quando eram, no total, 1282 pessoas. Mas também nesse ano, as comissões enfrentaram um aumento do número de casos.

No país todo, foram tratados pelas comissões mais 2560 processos do que em 2012, quando também se registou um aumento de mais 1066 processos de 2011 – ano em que foram no total tratados 60007 processos (instaurados, reabertos ou transitados do ano anterior).

A equipa de Matosinhos é uma das que têm sentido esse aumento nos últimos anos. Em 2013, lidou com 1253, ou seja, mais 156 processos do que em 2012, ano em que já se tinha registado um incremento de 120 casos.

A responsável Rosinda Antunes traça um quadro das situações mais frequentes que levam as crianças e jovens a serem sinalizados e que reflectem uma realidade nacional também descrita no relatório de 2013 da comissão nacional: “Muita violência doméstica, em que estão inseridas crianças; jovens que não se dão com os pais e andam fugidos; um abandono escolar brutal; uma incapacidade parental ou pais que não se entendem entre eles e envolvem os filhos [nas discussões relativas à regulação do poder parental].”

Nalguns casos, as situações chegam às comissões num ponto em que têm de ser resolvidas imediatamente. “São casos de pessoas que ficam sem retaguarda nenhuma. E temos de encontrar uma solução em 24 horas” para prevenir situações de perigo para a criança ou o jovem, resume.

Centenas de processos
Daí que Rita Carvalho, presidente da CPCJ do Barreiro, qualifique esta situação de “inesperadíssima” e “sem sentido nenhum” e confesse que ainda tem “esperança de que seja invertida”. Também para Ana Núncio, que acumula funções de representante da Segurança Social nas CPCJ de Alcácer do Sal e de Grândola, “foi uma surpresa”. E acrescenta: “Estamos todos a exercer funções.”

Para Adélia Silva, que acumula as funções de representante da Segurança Social nas CPCJ de Sines, a que preside, e Santiago do Cacém, “a situação é gravíssima”. Com o anúncio da sua saída, o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, disse em comunicado que ficava comprometido “um trabalho decisivo na prevenção e nas medidas de acompanhamento em casos de maus-tratos e outras situações”. E acrescentou: “Estamos a falar de dezenas e de dezenas de processos.”

“Existe o desejo e o propósito claro de manter a representação da Segurança Social nas comissões e de garantir a sua funcionalidade”, disse o presidente da CNPCJR Armando Leandro ao PÚBLICO. “Todos os esforços estão a ser feitos” para garantir que as comissões continuem a funcionar como estão, assegura sem explicar se houve ou não garantias de que as pessoas agora dispensadas serão substituídas ou poderão ainda permanecer nas comissões.

“Privatização camuflada”?
Além dos representantes nas comissões, entre as pessoas dispensadas, há ainda dezenas que estão como reforços técnicos das comissões. E técnicos das equipas de apoio técnico aos Tribunais de Menores e de Família, que trabalham nos processos quando estes transitam para a Justiça por ausência de consentimento dos pais – como o caso noticiado este fim-de-semana, em que quatro crianças foram retiradas dos pais, que conduziam, com eles no carro, alcoolizados, no distrito de Aveiro.

O perigo, dizem pessoas ligadas ao sector, é que o Estado, obrigado a reduzir pessoal, esteja apostado em contratar precários e deixe de prestar estes serviços, naquilo que é descrito por “privatização camuflada” do sistema de protecção de crianças e jovens.

As pessoas têm sido informadas pessoalmente pelos centros distritais da Segurança Social e notificadas por carta, na qual se justifica a sua dispensa por estarem integradas em carreiras especiais (não revistas) e categorias que não têm enquadramento nas actuais competências do ISS. Além dos educadores, há assistentes operacionais e outros técnicos. Nalguns casos, as pessoas são avisadas da “extinção do posto de trabalho”.


As perguntas enviadas pelo PÚBLICO ao Instituto da Segurança Social não tiveram resposta, ficando por explicar se os profissionais agora dispensados serão substituídos. Ou se as comissões vão funcionar com menos pessoas."

Por ANA DIAS CORDEIRO, in PUBLICO.PT