"Vi-te na biblioteca da escola primária onde eu dou aulas, e o teu filho de quatro anos estava a berrar contigo. Estava a gritar, desesperadamente, na tua cara. Foi por isso que eu olhei para ti. Foi por isso que toda a gente olhou para ti. Ele estáva desesperado porque não lhe compraste o novo livro da Lego Star Wars, de 19.99€, que traz os bonecos que ele “precisa, precisa preciiiiiiiiiisa” mesmo de ter.
Está a fazer uma cena enorme. Eu ouvi do outro lado do corredor. Está a gritar e a espernear enquanto se contorce no chão. Ele só chora e grita, e diz que a mãe é má porque não lhe dá o que ele tanto quer. O mundo dele está desmoronar-se, e ele só consegue dizer que és a pior mãe do mundo.
Todas as pessoas à volta já estão a olhar para ti. A empregada está congelada, sem saber como reagir. Toda a gente está a olhar para ver o que vais fazer em relação à sua birra. É uma daquelas birras barulhentas e incomodativas de se assistir.
Vejo as lágrimas a subirem-te aos olhos, mas também vejo a coragem e força estampadas na tua cara. Estás calma e serena, e aparentemente não estás incomodada com a birra do teu filho. Continuas o pagamento na caixa, depois colocas os livros na mala, calmamente dás a mão à tua filha, recolhes o miúdo enquanto grita, e sais biblioteca fora. Ele continua a contorcer-se e a empurrar-te. Acabou de te arranhar na cara, deixando uma grande marca na bochecha, mas continuas a caminhar calmamente.
Conforme andas até ao carro (e eu não posso deixar de seguir-te e observar com admiração as tuas técnicas mágicas de parentalidade) ouvi-o gritar, entre soluços enquanto tentava recuperar o fôlego sem sucesso: “-A MÃE PROMETEU QUE EU PODIA COMPRAR UM LIVRO HOJE!“. Calmamente respondeste: “Eu dei-te 10€ para gastares num livro hoje. Escolheste um livro mais caro. A seguir preferiste passar o teu tempo na feira a chorar e a gritar em vez de procurares um livro que pudesses comprar com o dinheiro que te dei. Tenho muita pena que tenhas feito essa escolha, deve ser muito triste para ti saíres da feira sem nenhum livro hoje.”
Ele, claro, não gostou dessa resposta. Na verdade, ainda gritou e chorou mais alto. Contorceu-se tanto que quase que te caia dos braços. Colocaste-o calmamente no chão com firmeza, mas com amor, agarraste-lhe no pulso para que ele não fugisse. Num tom calmo, paciente e maternal disseste: “querido, eu adoro-te. Eu amo-te muito. Eu sei que agora estás triste, e eu fico triste quando tu estás triste. Vamos entrar no carro e vou dar-te o teu cobertor: faz-te sempre sentires-te melhor.”
Ele responde: “mas, mas, mas…a mãe não comprou o meu livro…” Repetiste o que disseste anteriormente: que estás triste por ele ter escolhido perder o seu tempo a chorar em vez de procurar um livro que custasse 10€.
Depois, em silencio, deste-lhe um grande abraço (ao qual ele resistiu), pegaste-lhe ao colo (apenas para ser novamente arranhada na cara), e sentaste-o na sua cadeirinha no carro. Fechaste a porta e, apoiaste-te inclinada no carro por um momento. Deixaste escapar um suspiro, de frustração, antes de entrar no carro e ir embora.
Hoje, tu não cedeste. Não cedeste em momento algum, e por isso eu quero agradecer-te.
Obrigada por seres uma mãe que estabelece limites para o seu filho. Obrigada por seres uma mãe que não cede ao constrangimento social para apaziguar os desejos do seu filho pequeno que está aos gritos.
Obrigada por escolheres não lhe dar tudo o que ele quer.
Obrigada por teres a maturidade de lhe pegar ao colo enquanto ele se contorcia e gritava, e calmamente explicar-lhe as razões pelas quais não compraste o livro da Lego hoje.
Obrigada por teres maturidade para conversar com o teu filho como um adulto e permitir-lhe ver as consequências de suas ações. Obrigada por lhe teres explicado que não era um problema teu, que era uma confusão criada por ele, baseada numa (má) escolha que ele fez.
Muito obrigada por seres um exemplo para todas as mães, porque ser uma mãe firme que cumpre a sua palavra é muito mais importante do que ceder, para evitar uma birra. Obrigada por seres uma mãe em quem os teus filhos podem confiar, porque és consistente e firme.
Obrigada por seres uma mãe que faz os seus filhos sentirem-se seguros. Obrigada por amares os teus filhos o suficiente ao ponto de não seres a amiga deles, mas sim assumires o papel de mãe.
Como professora, eu vejo todos os dias uma grande variedade de pais e vejo todo o espectro de estilos parentais e abordagens. E como uma professora, eu consigo ver a extrema necessidade que o mundo tem da existência de mães como tu.
A feira do livro foi há três meses, e eu ainda estou a pensar na forma como lidaste com a birra do teu filho naquele dia.
Obrigada por seres o tipo de mãe que cria filhos respeitosos e humildes. A tua influência é muito maior do que jamais saberás.
Atenciosamente,
Uma professora grata."
Por sara michelle, no blog argyle in spring
traduzido e adaptado por Up To Kids®
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